sábado, 15 de outubro de 2011

O sábio no deserto

Depois de semanas divagando por um inóspito deserto, com o sol a arrancar-me o couro já endurecido, esperançoso de um dia encontrar água, sempre escondida na próxima curva do horizonte, vi o sábio.

Corri com um último alento e a seus pés me atirei, não mais que seus pés veria, tamanha sua ofuscante e titânica figura. Perguntei-lhe:

_ Sábio, por que é que à deriva neste mar de areia meus passos são tão em vão e sempre que penso ver o norte, atropela-me impiedoso um camelo cego e desesperado, sem rumo nem descanso? Um camelo cego que louco perambula a galope, pisoteando todo e qualquer homem que se lhe oponha, só mais um grão desta areia fina, e desaparece novamente no horizonte, deixando atrás somente pegadas fugazes, rastros efêmeros de uma existência duvidosa. Vai-se, some e somem com o vento suas pegadas, restam apenas a destruição e uma calma intranquila, bonança suspeita, quietude ameaçadora... Por que, sábio?

O sábio nada respondeu e por minutos aguardei, dias aguardei, noites aguardei, na esperança de que a paciência me fizesse compreender o magno silêncio que me oferecia.
Noites caíram, dias também, mas quando a escuridão de uma noite sem lua nos envolveu, ousei e toquei-lhe os pés. Estavam gelados. Ergui a vista e encontrei somente o rosto de mármore do sábio morto e sem olhos. Compreendi, enfim, que jamais compreenderia a resposta.

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