quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sobre Grunhualdo

Grunhualdo era o maior poeta lusófono desde Camões, Pessoa, Cabral, e a quem lhe ouvisse deleitava com melífluas estrofes que da lágrima ao sorriso tudo instigam. Grunhualdo, porém, foi exilado por sua vontade e foi parar no Azerbaijão. Lá chegando, perguntaram-lhe alguns beduínos o que fazia. Grunhualdo explicou que era artista, arranhando um azerbaidjano de dicionário. Pediram-lhe, então, que cantasse, mas Grunhualdo não sabia cantar, pediram-lhe que dançasse, mas Grunhualdo não sabia dançar, pediram-lhe que pintasse, mas Grunhualdo não sabia pintar, perguntaram-lhe o que sabia fazer. Grunhualdo, então, pigarreou varrendo a garganta e de improviso declamou os mais belos versos que já se ouviram em terras arzebaidjanas, as palavras juntavam-se em júbilo, como se no berço do engenho se tivessem separado e agora, pelo artifício do poeta, voltassem a se reunir para formar a mais plena lusófona oração já ouvida por aquelas áridas terras. Quando os supremos versos desvaneceram com a voz já rouca de Grunhualdo, os beduínos se entreolharam, viraram-lhe as costas e se foram em seus camelos, como devem retirar-se os legítimos beduínos do Azerbaijão. Grunhualdo, desolado, mas resignado, devotou-se ao silêncio e ao reparo de móveis de cozinha. Fim.

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