terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Excerto da entrevista concedida a Pessoa Muito Crítica sobre "Uma noite verborrágica"

PMC: O que o motiva a empregar palavras de pouco uso e pouco conhecidas em seus textos? Vc não acha que isso denota certa arrogância?

J: Bem, não acho que se trate de arrogância, pois isso significaria que me arrogo um status superior e minha motivação seria humilhar meus interlocutores. Não é essa minha intenção, simplesmente divirto-me conhecendo, pesquisando e empregando palavras menos usuais, muitas vezes abandonadas em entediados verbetes de dicionários. Divirto-me utilizando um pouco mais que as, sei lá, digamos 50 mil mais habituais. Para isso, existe o jornalismo. Enfim, o que me motiva é divertir-me encontrando outras palavras. Talvez seja um amor inexplicável por este idioma que considero um dos mais bonitos e ricos que conheço. Não conheço tantos, mas alguns...

PMC: Mas vc não acha que isso pode desagradar a algumas pessoas?

J: Certamente, mas não se pode agradar a todos, aliás, não se deve agradar a todos. Talvez não se deva mesmo agradar a ninguém. São solilóquios...

PMC: Isso não dificulta a compreensão do conteúdo, a comunicação, fim último da escrita?

J: Acho que não. Em primeiro lugar, o contexto, a meu ver, é compreensível, mesmo com a presença de termos mais incomuns. Em segundo lugar, não tenho certeza que a comunicação seja de fato o fim último da escrita. Talvez se trate mais de expressão ou salvação, como afirma Edmundo Desnoes. Há, ainda, um último aspecto importante. A pergunta, a meu ver, implica uma dicotomia entre forma e conteúdo, há muito questionada tanto por quem produz como pelos teóricos. Não acho que esse conto seria esse conto com outra forma. Explico-me. Trata-se, com exceção do final, da narração de uma situação bastante ordinária, no sentido de um evento rotineiro, cujo conteúdo, alguns diálogos de bar, não tem grande transcendência além da curiosidade evocada pelas diferentes posturas dos protagonistas. A utilização de uma linguagem mais formal, no lugar da reprodução do estilo coloquial de uma situação como essa, cumpre uma função, a saber, a criação de uma tensão entre esse caráter ordinário do evento com o extraordinário (refiro-me à linguagem não cotidiana) da narração. Portanto, resumindo, não se trata, em minha opinião, de arrogância, mas sim de um estilo carregado dessa tensão e, acima de tudo, uma forma de divertir-me.

PMC: E quanto à alegação de que o final do conto apresenta uma ruptura pouco crível, de forma que o elemento transformador é introduzido abruptamente, quase como uma punição moral do personagem, que poderíamos considerar protagonista?

J: Sim, eu concordaria plenamente, se isto fosse ficção. Às vezes contamos algumas coisas da vida que na ficção parecem pouco críveis. É irônico...

PMC: Ainda assim, insisto que vc soa como um arrogante, que não produz mais que um compêndio de termos fora de uso, que não resistiria à primeira sugestão ou crítica.

J: Bem, respeito sua opinião. Não me vejo como arrogante, mas isso cabe aos outros julgar. Mas gostei disso de um compêndio de termos fora de uso, embora para isso esteja o dicionário. Quanto à sugestão ou crítica, adoraria tê-las, pois ao escrever assim dou a cara a tapa, o que em todo caso acho melhor que imitar ou reproduzir estilos de outrem ou amplamente aceitos.

PMC: Muito obrigado. Vá se foder.

J: Obrigado a você. Foda-se também.

3 Comentários:

Às 27 de janeiro de 2009 às 10:55 , Blogger Paula Vanina disse...

Poderia se chamar Uma noite ventríloqua. Uau, que palavra hein?! Concordo com PMC e concordo com J. E agora? Bjs e continue postando. Eu posto, tu postas, ele posta, nós postamos, vós postais, eles postam.

 
Às 29 de janeiro de 2009 às 14:15 , Blogger Luciane Godinho disse...

kkkk...adorei...

 
Às 13 de fevereiro de 2009 às 15:14 , Anonymous Anônimo disse...

bonito o texto, e também bonito o comentário, até tenho vergonha escrever alguma coisa. Eu gostaria de conhecer todas as palavras que exprimam todos os sentimentos para poder acompanhar o linguajar de vocês

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial