quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Texto de outrora


O texto abaixo foi escrito há muito tempo, talvez mesmo em outra época, foi em setembro de 2008, quando as coisas eram tão diferentes que já nem consigo entender o que ele queria dizer... não faz nenhum sentido, mesmo assim, publico-o, para que aqueles que o entendam possam explicá-mo-lo.

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Ontem assisti à Hércules 56.

Sempre me impressionou ver imagens da juventude de pessoas hoje mais velhas.
Choca-me ver o viço da juventude, a esperança que se espalha em todos os ossos durante o andar, mesmo algemados, e logo ouvir as palavras enrugadas daqueles mesmos personagens. Todos sentados contam-nos dos idos tempos. Desnoes nos dizia, do alto de seus oitenta anos, já revolucionários, já reacionários, que envelhecer é sentar-se, acomodar-se. E tem razão. Também me impressiona, como é oportuno que haja imagens daqueles tempos, que o passado retorne em movimento... Por isso, decidi fazer estas imagens... imagens de mim mesmo, andando na rua, com meu cachorro na coleira. Sem pressa, mas sem calma, andando, andamos. Assim, daqui a quarenta anos elas poderão ser usadas por algum curioso documentarista. Nunca se sabe o que pode acontecer. Imagino do que falaremos em quarenta anos. Imagino que daqui a quarenta anos nada se dirá de 2008, falarão dos 80 anos de 68. Mas nunca se sabe. Penso nestas imagens com a legenda embaixo. Gostaria que dissesse "Em sua vida sibarita orbivagava à espera do temível orco". Ou mais prosaicamente “qual parafuso espanado rodava”. Penso também nestas imagens envelhecidas, o que é estranho, é estranho imaginá-las envelhecidas, quando nem são imagens, são impulsos eletrônicos, ou algo assim. Mas o bom documentarista talvez, em um generoso ato, possa tratar as imagens, envelhecê-las. Como o retrato em meu quarto. Tenho um retrato no quarto da casa de meus pais de quando eu tinha quatro anos. Usava o uniforme amarelo (acho) da escola e, enquanto posava para a foto, mantinha a língua para fora no canto inferior da boca em um gesto de timidez, minha eterna timidez. Acho que esse retrato esteve sempre na parede de meu quarto, mas somente quando ele começou a desaparecer o notei. Está se apagando. Estou me apagando. Desnoes, outra vez ele, contou-nos uma anedota de Fidel. Dizem que em uma conversa com colegas da faculdade de direito, nos tempos de sua graduação, discutiam sobre seus sonhos. Um dizia que queria ser juiz, outro promotor, desembargador, assim vários, até que Fidel disse: "Quero merecer ao menos uma linha na história de Cuba". Certamente, conseguiu muito mais que uma linha. Se não tivesse conseguido, seria somente mais uma frase esquecida. Mas penso em 2048, penso nestas imagens de orbívago, e penso na frase de Fidel. Deixarei, portanto, para o bom documentarista uma frase semelhante que talvez, ai de mim meter-me em assuntos da edição, possa encerrar seu filme: “Quero merecer ao menos uma linha em minha própria lápide”.

2 Comentários:

Às 11 de fevereiro de 2009 às 16:06 , Blogger Paula Vanina disse...

e precisa fazer sentido? e preciso explicar-te-o? (sem brigas é só uma brincadeira com palavra errada)É bonito ou não. Sem fazer sentido ou não. E prá mim é bonito. Gostei muito da frase sobre a foto na parede, que só foi percebida qdo começou a desaparecer. Num é sempre assim? Começamos a dar valor às coisas que começam a se perder. Continue postando! E me avisando que postou. Bjjjjs

 
Às 15 de fevereiro de 2009 às 17:26 , Blogger Luciane Godinho disse...

Na minha opinião deverias levar a tua atividade de escritor à sério e escrever mais do que na tua própria lápide. Bj!

 

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