terça-feira, 5 de maio de 2009

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A: Que pena, eu precisava conversar, não sobre um mundo assombrado pela gripe suína nem sobre os gols do Messi, precisava dizer o inexprimível que dói e corrói apesar de todas as alegrias. Como viver plenamente o presente, se planejar o futuro é uma exigência a cada minuto que se desfaz? A solidão não me assusta mais, assusta-me a necessidade de ser. Não sei se posso explicar essa frase, não é mera retórica nem um engenhoso jogo de palavras, trata-se mesmo da experiência, não poderia condensá-la em palavras, quisera saber pintar, mas suspeito que tampouco haveria tela capaz de me deixar estar. Um movimento incessante, talvez a única existência concreta do tempo. Talvez a única intersecção possível entre mim e o tempo. Chama-se angústia? Angústia, chama que não perdoa...

B: Ah, deixemos de conversinhas existenciais, sejamos práticos, que horas são é o que importa; que fazemos agora, que projeto escrevemos, a quem convencemos? Sejamos práticos, deixemo-nos de firulas. Há que ser osso e carne, mesmo quando o osso precisa de titânio. Pisemos no chão de cimento que nós mesmo plantamos sobre a terra úmida e pantanosa do Brooklin.

A: Não fui eu! O asfalto já estava aqui quando cheguei e antes também. Já foi pântano tudo isto, que culpa tenho se ainda o sou? Escorro pelo asfalto como a lama de outrora.B: Não! Arrastas os pés, não escorres.

A: Que diferença há?

B: Toda! Uma é uma condição, outra é uma escolha.

A: A escolha é uma condição.

B: De novo vens com a retórica. Sejamos práticos, façamos o que deve ser feito. Flutuar é para as nuvens.

A: Quisera sê-lo.

B: Não sóis nuvens, homens é que sóis.