sábado, 21 de maio de 2011

Navegante em bolha


Mais de uma vez sentia que navegava sobre uma bolha de sabão que algum deus pueril, deus ludens, se diverte em assoprar. Olhava destemido o solo distante e densamente povoado por aquela gente ignara de outro mundo, era divertido até. Só de quando em quando lembrava que era só uma bolha de sabão e aí precisava inventar-lhe outro nome qualquer, como “gás encerrado dentro de fina película esférica e saponácea” ou para os amantes de siglas como eu, GEDFPES. Geédéfepes! FDPs e distrações acronímicas que fazem esquecer a bolha. E então, a bolha estoura e não resta verbo sobre verbo, restam os caninos expostos e o rosto teso do cão morto. O cão negro e os brancos caninos e o sentido de tudo isso. Se nossa consciência é desculpa suficiente para não aceitar a falta de sentido, pensemos nos cães. Companheiros fiéis, são incapazes de viver mais que 12, 15, 20 anos. E deixam-nos pensando e o sentido?
Que sentido tenho eu quando só porque tenho tanto sentido sinto que posso ter sentido? Sobre a bolha de sabão, refratária à fímbria de luz que entra pelo vão estreito de minha fria caverna, observo a minha própria sombra que se desenha na parede. Falta-lhe algo, um pedaço mutilado no rosto, um trecho, um verso, um sentido...