sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pequena nota escatológica ou Pequena nota escatológica

Estava na dúvida entre escrever uma pequena nota escatológica ou uma pequena nota escatológica. Circunstancio. Com as tardes horas que ardem em insones moras, desejava dizer algo sobre o fim dos tempos, o mundo sem o homem que por si já não seria mundo, outra coisa seria. Um pequeno e breve tratado escatológico, pensei. Pensei, pensei, penei e não escrevi. Que merda, pensei, e escrevi meia dúzia de linhas tortas, enfim uma merda. Eis que surgiu, então, um pequeno e breve tratado escatológico.
Escatologia é a doutrina que trata do fim dos tempos, do mundo, do homem e tem como origem etimológica o termo grego éskhatos (extremo). Vocábulo primo, de primeiro grau mesmo, skatós, deu origem a escatologia, estudos dos excrementos, vulgarmente, merda. Curioso destino linguístico que em nosso rico e, quiçá jocoso, português aprontou com tão eloquente homonimia, capaz de brindar a qualquer desocupado o prazer (absurdo e blasfeme) de colocar na mesma rubrica o destino do homem e um saco de excremento.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Parabéns, Clube VIP, por seu duodécimo aniversário

É incrível que 12 anos tenham se passado desde a fundação do Clube VIP, quando alguns sujeitos se reuniram para formar um grupo completamente contrário à corrente, mesmo considerando que naquele então esta corrente nem sequer fosse tão opressora como nos dias atuais. Hoje, mais de uma década depois, toda a publicidade e o marketing das empresas buscam criar a ideia de exclusividade, renegar o consumo em massa para fazer de cada cliente um indivíduo privilegiado e único. Pura retórica, eufemismo para designar aquilo que continua sendo a massa que consome, é o que vale, mas agora possui o cartão PirulitoExpress, CiaVIP, Gente+, e assim por diante. Mas quando o Clube VIP (Very Insignificant People) foi fundado aos 9 dias de abril de 1998, ainda não era tão deslavada a pretensão dos publicitários de fazer com que nosso orgasmo consumidor adviesse acompanhado de um requinte de pseudoexclusividade. A proposta inicial do clube era simples e dispensava atas de fundação ou qualquer outro documento inaugural, bastava que se reconhecesse que cada integrante nada tinha de especial e era um indivíduo absolutamente medíocre. Este reconhecimento, duro por vezes, requeria coragem e era comemorado à altura toda vez que um novo membro pronunciava oficialmente que se considerava um ser insignificante. Mas após o reconhecimento, tirava-se um ingente peso dos ombros e o ar era capaz de sair dos pulmões com leveza nunca dantes sentida. Todos vestiam seus mais corriqueiros trajes, uma calça jeans ou moletom com anos de uso e uma camiseta básica lisa de qualquer cor discreta, e se dirigiam ao night club mais em voga, para fazer-se banir logo à entrada por uma atraente hostess e pouco amigáveis seguranças. A ação não requeria arruaça. Bastava enfileirar-se por entre os coquetes frequentadores e esperar a recusa. Não fariam discurso em defesa do direito de ir e vir, sobre a discriminação ou qualquer outra baboseira pró-cidadania, davam meia volta e tornavam a entrar na fila. Consistia em um patético jogo que às vezes ganhava a simpatia de alguma hostess que, quer fosse por se tratar já do fim da festa ou por uma afluência menor à esperada, ficava comovida e permitia a entrada dos insistentes membros do Clube VIP. Mas neste momento, recusava-se a oferta. Ao longo de seus 12 anos de existência, novos membros, cujo nome não destacaremos aqui por contrariar o espírito do ajuntamento, aderiram às práticas do grupo e, segundo rumores não comprovados, abriram uma sucursal do Clube na cidade de Anápolis. Semanalmente, feitos de destaque como vãs esperas na fila do camarote do show do Sting, na fila do lançamento da biografia de Tim Maia, da edição especial da Playboy de Grazie Massafera, da inauguração de um shopping de luxo em São Paulo, entre muitos outros, fizeram do histórico do Clube VIP um sem-fim de exitosos fracassos. Em toda sua trajetória desvela-se uma única mácula, quando um dos integrantes teve de ser expulso, pois, aproveitando-se de um inevitável status que os anos prouveram ao pouco seleto clube e de um inegável carisma pessoal, este passou a penetrar nos eventos com certa facilidade, infringindo a tácita premissa que une seus integrantes, a saber, sua reconhecida insignificância. Não foi, contudo, uma decisão tirana, unilateral, sem prévio aconselhamento e oportunas advertências. Quando da primeira ocorrência, em meados de 2002, o referido indivíduo por primeira vez demonstrou sua inclinação para o destaque, penetrando em uma restrita boate de forma bastante inusitada ao elogiar os seios da hostess, foi devidamente avisado sobre a incoerência de seu comportamento, embora os seios da hostess fossem verdadeiramente dignos de nota. Sucessivas demonstrações de perícia persuasiva do já mencionado integrante levaram a decisão consensual, embora largamente lamentada, de excluí-lo definitivamente. Hoje, também segundo rumores, este ex-integrante montou seu próprio clube com premissas diametralmente opostas que não merecem mais comentários da nossa parte. Sem mais proêmios, portanto, e por meio de uma discreta nota neste blog tão escasso em leitores, optamos por celebrar o duodécimo aniversário de nosso tão amado Clube VIP e desejamos a todos seus integrantes muitas ordinárias felicidades e anos de vida. Parabéns, Clube VIP!

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